De manha acordei com a lagrimita no canto do olho e com o primeiro verso a saltar, mudo, da pontinha dos labios.
Lembrei-me dos cadernos de faculdade, TODOS com o poema la escarrapachado. E com um comentario de uma colega a perguntar se era eu a autora... Ah negacao respondeu "Tens talento suficiente"! Era bom, era. Mas o Chico eh o Chico, o Sergio eh o Sergio, e eu sou eh nada. mas caminho para o algo, eu sei que sim.
Enquanto isso choro o que nao fui.
Vou
uma vez mais
correr atrás
de todo o meu tempo perdido
quem sabe,
está guardado
num relógio escondido por quem
nem avalia o tempo que tem
Ou
alguém o achou
examinou
julgou um tempo sem sentido
quem sabe foi usado
e está arrependido o ladrão
que andou vivendo com o meu quinhão
Ou dorme num arquivo
um pedaço de vida
a vida,
a vida
que eu não gozei
eu não respirei
eu não existia
Mas eu estava vivo
vivo,
vivo
o tempo escorreu
o tempo era meu
e apenas queria
trazer de volta cada minuto
que passou sem mim
Sim
encontro enfim
iguais a mim
outras pessoas aturdidas
descubro que são muitas
as horas dessas vidas
que estão
talvez postas em grande leilão
São
mais de um milhão
uma legião
um carrilhão de horas vivas
quem sabe
dobram juntas
as dores colectivas, quiçá
no canto mais pungente que há
ou dançam numa torre
as nossas sobrevidas vidas,
vidas
a se encantar
a se combinar
em vidas futuras
Enquanto o vinho corre,
corre,
corre
morrem de rir
mas morrem de rir
naquelas alturas
pois sabem que não volta jamais um tempo que passou